quarta-feira, 26 de novembro de 2008

A Pasárgada Alemã

Câmara Municipal antiga - símbolo da cidade de Bamberg

Na região da Baviera, a cerveja é considerada o quinto elemento, junto com a terra, água, ar e fogo. Lá fica a cidade de Bamberg, na região da Francônia.
Localização de Bamberg na Alemanha

A região cervejeira da Francônia (Bierfranken) tem a maior densidade de cervejarias, mais ou menos 300, por número de habitantes do mundo (quem terá coragem de discordar do título desse post?).

A cidade de Bamberg foi documentada pela primeira vez em 902 e manteve seu caráter medieval ao longo do tempo. Seu centro histórico foi reconhecido pela UNESCO como patrimônio mundial em 1993.

O EBCU (European Beer Consumers Union) declarou Bamberg como World Beer Heritage City (Cidade Patrimônio Mundial da Cerveja?). Com 10 cervejarias produzindo mais de 60 tipos de cervejas, 2 grandes maltarias (Weyermann Malz and Bamberger Mälzerei) e o Franconian Brewery Museum, pode-se dizer que a cidade tem bastante cultura cervejeira para os seus mais ou menos 75.000 habitantes.

Maltaria Weyermann

No início de maio ou fim de abril, as pessoas de Bamberg vão aos seus Bierkellers favoritos, que são a variação local dos famosos biergartens, e saboreiam seus primeiros barris de cerveja do verão.

Em 1972, foi fundado o "Franconian Beer Brewing Museum". Ele fica nas históricas grutas usadas como adegas de cerveja de um antigo monastério beneditino em Michelsberg.

Falando em Bamberg, logo vem à mente o estilo defumado, mas só 2 cervejarias (Schlenkerla and Spezial), das 10 de lá, fazem esse estilo.
A Schlenkerla, um exemplo do estilo rauch, é mais conhecida aqui no Brasil por sua Aecht Schlenkerla Rauchbier Märzen, mas também produz uma Rauchweizen e uma unsmoked Lagerbier, dentre outras. No fim do outono, também é feita uma Rauchbock (é duro fazer esses posts e não provar nada disso).

Produzindo rauch na Schlenkerla


Nas tavernas das cervejarias é usual compartilhar as mesas, ainda mais quando o lugar tá ficando cheio. Então, chegando lá e não havendo mesas vazias, pode ir sentando em qualquer lugar sem censura.

Taverna da Schlenkerla, uma das muitas da cidade


No Brasil, há uma microcervejaria em Votorantim, SP, que se chama Bamberg e produz 9 estilos de cervejas. Ela já tem 3 anos de idade, mas só agora lançou sua Rauchbier, que será devidamente degustada no nosso encontro.


A cerveja foi desenvolvida por Stefan Grauvogl, bier sommèlier e mestre-cervejeiro, que fez sua primeira cerveja aos 15 anos de idade, e trabalha atualmente na Maltaria Weyermann.

Ele veio pro Brasil em agosto desse ano só pra produzir a Rauchbier da Bamberg.

Estamos ansiosas por essa degustação, que terá como harmonização um jantar feito pelo super mestre cervejeiro Maurinho.

Um Brinde a essa noite que promete...

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Os Biergartens da cidade de Bamberg, Alemanha

Sendo nosso próximo estilo o Rauch, iniciei já minhas pesquisas e descobri algumas coisas interessantes. Pra começar, uma rapidinha:
Bamberg tem a reputação de ser a 'Cidade da Cerveja' da Alemanha. Isso não só por suas 10 cervejarias, mas também pelos aconchegantes Biergartens, que lhe garantem essa posição especial.

A criação dos Biergartens acabou acontecendo por uma decisão do Rei Ludwig I da Bavária, que decretou que as cervejas só poderiam ser feitas durante o inverno, já que a fermentação deveria ocorrer a baixas temperaturas. Só que os cidadãos não queriam deixar de beber cerveja lager no verão. Então, os cervejeiros e cervejarias tiveram a idéia de construir grutas nas pedras das montanhas e estocarem lá suas cervejas (Bierkellers).
Para proteger as grutas do calor do sol, os cervejeiros espalhavam pedregulhos em cima das cavernas e plantavam castanheiros para proporcionar sombra.
Tudo começava no inverno

Ao subirem para pegar as cervejas, começaram a perceber que era mais agradável beber lá em cima do que no calor da cidade. Então, os Bierkellers passaram não somente a estocar cerveja, mas também a servir.

Bierkeller: criatividade das cervejarias e cervejeiros


O caso se espalhou rapidamente, e multidões de pessoas sedentas começaram a ir aos Bierkellers e Biergartens das montanhas, e lá foram instalando-se bancos e mesas. Cervejarias faziam filiais temporárias lá em cima e assim foi indo até que o Rei Ludwig I, a fim de dar uma vantagem competitiva aos restaurantes que não tinham suas próprias cervejarias, ou que não subiam com elas, proibiu de serem servidas refeições nesses bares temporários. Mas os cidadãos eram criativos, e começaram a levar pão, salsicha e queijo para comer nos Biergartens.

Hoje, os Biergartens são mais do que comuns e tradicionais, e servem comidas típicas e muita cerveja, mas a tradição de levar sua própria comida ainda se mantém


Biergarten em Bamberg

Ein Prosit!
Fontes: Amado Google e www.bamberg.de

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

As Females batem palmas



Que ele merecia, todas nós que já nos deliciamos com suas receitas já sabíamos. A mais nova láurea do nosso amigo Ricardo Rosa vem de longe e traz muita alegria a quem conhece esse sujeito muito gente boa. Soubemos ontem à noite, que sua Colorado Demoiselle faturou a medalha de ouro na categoria Porter do European Beer Star. Para quem não sabe, essa é a mais importante competição da Europa e reúne cervejas do mundo inteiro. Ele esteve presente nos nossos dois encontros. No primeiro esteve pessoalmente. Gostou tanto que, no segundo, se fez representar (e muito bem!) por sua Weizen que degustamos. A Weizen, por sinal, foi terceiro lugar no II Concurso Nacional de Cervejas Artesanais (08/08 em BH). E nós, nos encontramos todas pela primeira vez, justamente no lançamento da Demoiselle. Honra nossa.
Parabéns e um brinde, caro Ricardo, futuro presidente da Acerva Carioca.

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Steinbier ou Stone beer

“Stein”, pedra em alemão, além de também significar vasilhames bávaros feitos de pedra usados para beber, faz referência a um método antigo de fazer cerveja.


Nos primórdios, a cerveja era feita em caldeiras de madeira, e não era conveniente botá-las para ferver diretamente sobre o fogo. Por isso, a alternativa era esquentar pedras e colocá-las dentro do recipiente. Esse era o único método pelo qual o mosto poderia ser fervido. Isso não apenas levava a bebida à fervura, como também caramelizava alguns dos açúcares do malte.


Aquecendo as "steins" (Bavária, Alemanha, 1999)

Quando a cerveja era retirada da caldeira, resfriada e posta no fermentador, as pedras também iam. O resultado era uma cerveja com sabor defumado e um suave residual adocicado de malte.


Fazendo Rauchenfels Steinbier (Bavária, Alemanha, 1999)


Antigamente, as Steinbiers eram preparadas como Ales, até porque esse método era utilizado antes da descoberta do fermento lager, mas hoje em dia elas são todas lagers.



No sub-estilo Steinweizen, o resultado final importa um sabor defumado, de toffee, tipo melaço. E a bebida consegue ser leve no corpo, limpa no paladar, e ainda manter a refrescância da cerveja de trigo.


A Boscos, do Tenesse, EUA, foi a primeira cervejaria norte-americana a fazer stone beer com regularidade.

Bosco's Famous Flaming Stone Beer


A original é a Rauchenfels, em Neustadt, Alemanha.

Rauchenfels Steinbier

Na Boscos, pedaços quentes de granito de Colorado são aquecidos a 700°F (371°C) no forno a lenha da própria cervejaria e jogados no mosto durante o processo.

A Boscos começou a fazer a Famous Flaming Stone Beer em 1993, e o procedimento varia de acordo com a localização. Em Memphis, os caramelos formados no granito são preservados e guardados enquanto a cerveja está fermentando. Quando o precioso líquido está pronto para ser filtrado, os caramelos são lavados para dentro da bebida (lavar a pedra, deixando cair na cerveja o caramelo que se formou em sua crosta - nota dessa humilde tradutora), ficando presentes no produto final. Em Nashville, o mesmo não ocorre. Os caramelos são deixados na pedra e queimam quando ela é aquecida novamente, resultando num suave gosto defumado (descrito pela própria cervejaria, porque eu mesma nunca tive o prazer).

A "Famous Flaming Stone Beer" foi citada no livro do Michael Jackson, Ultimate Beer, e ganhou 3 estrelas no “Michael Jackson’s Pocket Guide to Beer”, tendo como comentário um “vale a pena procurar” ("worth seeking out").

Cervejeiros caseiros dos Estados Unidos também se aventuram nessa arte.

Homebrewers de Columbia, Carolina do Sul


A pedra só faz o mosto ferver por uns 15 minutos. Depois disso tem que ser no fogo mesmo.

Eis o vídeo de outro homebrewer se aventurando:


Um Brinde !

Fontes: Santo Google ; German Beer Institute ; Boscos Beer ; Addicted to BBQ ; Webshots ; e tradução livre feita pelo cervejeiro Bruno Boca do livro "Eyewitness Companions: Beer(Editor-in-Chief Michael Jackson)"

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

A mais antiga do mundo

No nosso segundo encontro foi degustado às cegas o estilo Weiss, ou Weizen, trigo, proveniente do sul da Alemanha.

Freistaat Bayern – Estado Livre da Baviera

Pesquisando sobre o assunto pra fazer minha apresentação, já que fiquei encarregada desse segundo encontro, descobri que a história da Weihenstephaner é muito legal.


Rótulo azul e branco, cores da bandeira da Baviera (ou Bavária em latim)


Em 725, o Cornestone Weihenstephan, francês, foi enviado como missionário a Freising, Alemanha, e lá fundou, junto com outros 12 monges beneditinos, o mosteiro de Weihenstephan.
Documentos de 768 comprovam que os proprietários da região que plantavam lúpulo tinham de ceder 10% da produção ao mosteiro, para a elaboração da bebida.


Plantação de lúpulo


Mas foi só a partir de 1040 que o abade Arnold obteve licença para a comercialização da cerveja, que já era fabricada há mais de 3 séculos.
Até 1463 o mosteiro sofreu 4 saques e destruições, sendo sempre reconstruído
Em 1803, a cervejaria foi estatizada, e em 1930 foi agregada pela Universidade Tecnológica de Munique, com controle pelo Ministério da Cultura e da Ciência da Alemanha, sendo hoje referência em estudos e formação de mestres cervejeiros vindos do mundo todo. Possui, também, um banco com aproximadamente 150 tipos de cepas diferentes.


Weihenstephaner é a cerveja feita em Weihenstephan.


O interessante nessa história é que o 1º Bispo de Freising, o cornestone de Weihenstephan, fundador do mosteiro, foi canonizado e hoje é conhecido como São Corbiniano.

Diz-se que ele, ao viajar para Roma em seu cavalo, deparou-se com um urso, que matou e devorou o eqüino (em janeiro de 2009 a gente tira o trema). O monge repreendeu severamente o urso e, como castigo, o fez viajar com ele, carregando sua bagagem, tarefa do cavalo até então. E assim chegaram ao destino.


Chegada a Roma


Caramba, um homem que fundou um mosteiro, e nele fez uma cerveja digna de aplausos, realmente merece virar santo.

Ein Prosit mit São Corbiniano!


(Fontes de texto e fotos: internet em geral)